FONTE: G1
Os preços internacionais dos alimentos não devem continuar subindo. Mas tampouco vão cair no curto prazo. A avaliação é do ex-ministro Pedro Parente, hoje presidente da multinacional Bunge no Brasil.
Em conversa exclusiva com o Blog durante o encontro do Fórum Econômico Mundial para América Latina, realizado no Rio de Janeiro, Parente afirmou que “há hoje uma questão de fundamentos, um desbalanço global entre oferta e demanda de alimentos. Não é uma questão especulativa de formação de preços. Os estoques mundiais estão muito baixos e, quando isso acontece, aumenta a volatividade e o risco. Isso contribui com a manutenção dos preços nos níveis atuais. Levando em conta essa situação de mercado hoje, não acho que pode haver uma queda expressiva de preços de commodities”.
Falando sobre o Brasil especificamente, Parente acredita que a inflação não deve mais sofrer grandes choques em função dos preços dos alimentos, uma vez que a alta deve cessar. O que pode ser um alívio para o Banco Central, que luta para controlar o surto inflacionário que acomete o Brasil atualmente. O preço dos alimentos é um componente importante na formação dos índices do país.
Parente não vê uma solução eficaz de curto prazo para o equilibrio dos mercados e, completa, ela não passa pela tentativa de influenciar os preços internacionais. ” É fundamental que se estimule as condições para oferta de alimentos no mundo. Esta é a questão-chave. Só se resolve o problema de maneira sustentável aumentando a oferta. Qualquer outro tipo de medida, por exemplo, restrição de exportações ou medidas que possam tentar intervir na formação de preço. Essas medidas podem dar um alívio de curto prazo mas não vão resolver no médio e no longo prazo”, alerta.
Como fazer isso em tempos de investimento para construção de estádios e aeroportos para os eventos esportivos dos próximos anos? “É preciso investir em infra-estrutura. O custo de escoamento da safra no país é altíssimo. O governo pode também gerar melhores condições para o setor privado investir. Não podemos criticar o governo por estar com foco na Copa do Mundo, até porque a melhora dos aeroportos é fundamental para o país. Mas sob o ponto de vista da agricultura, não resolve nada. Precisamos de eficiência para transporte de volumes e de portos”.
Pedro Parente, que comanda hoje um das maiores empresas do mundo de produção de alimentos, faz um último alerta de que é preciso avançar numa alternativa concreta, que depende exclusivamente do país, mudando o foco da preocupação com a especulação dos mercados para o aumento da oferta de alimentos produzidos aqui para suprir outros países. “O governo precisa ter muita atenção, tomar muito cuidado com que os outros países vem falando sobre os preços das commodities. Essa idéia de que é possível ter medidas globais de intercenção nos mercados não interessa ao Brasil”.